quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Só um Homem Cabo-verdiano, muito melhor, pode resolver os muitos problemas do nosso país!

"Be the change you want to see in the world.” 3
Mohandas K Gandhi (1869 – 1948)
Qual é o cabo-verdiano que, uma vez ou outra – para não dizer quase sempre -, já não tenha pensado e dito que, apesar de muitos avanços, a “vida[1]”, por estas paragens, está cada vez mais complicada e, em consequência, tenha responsabilizado, quase sempre exclusivamente, o Estado, os governantes, os políticos e afins, as cooperações e até as igrejas e as religiões pelo facto?


Eu, também! Mas, pensando melhor, estou cada vez mais convencido de que a razão de fundo da questão não tem muito a ver, nem exclusiva e muito menos fundamentalmente, com os dirigentes (sociais, administrativos e políticos), as igrejas e religiões e muito menos com quem vem de fora. Tenho por mim, que o busílis da questão tem mais a ver com a nossa matéria-prima-fundamental que, afinal de contas, deve ser o factor primeiro e a base de todo desenvolvimento humano, social e económico sustentável, neste caso, os homens e as mulheres cabo-verdianos. Só um “Homem Cabo-verdiano”, muito melhor, pode resolver os muitos problemas deste país! Mesmo sabendo que “os culpados de sempre” sejam também parte desta matéria-prima-fundamental, embora, alegadamente, melhores preparados (pelo menos legitimados) para serem protagonistas maiores na resolução dos problemas deste país, a questão de fundo, continua a ser, pura e simplesmente, o homem cabo-verdiano, bastas vezes, sem consciência, impreparado e com limitado e/ou deficiente sentido do colectivo e do bem comum.

A verdade é que, o nosso homem cabo-verdiano que, no dizer do poeta, "aprendeu com as cabras a comer pedras para não perecer"[2], é, como é, nos seus contextos, com as suas capacidades e limitações, com os seus defeitos e as suas virtudes. Afinal, apesar de todos, mais do que querermos, estarmos convencidos de que, independentemente das de todas as nossas contingências, este nosso querido Cabo Verde deveria e poderia estar melhor, o facto é que o nosso Homem Cabo-verdiano, senhor do seu destino (o quanto baste), ainda não tem sido capaz de o fazer. Quer me parecer que, enquanto não nos convencermos e assumirmos que o mundo (neste caso, Cabo Verde) só muda/melhora se cada um de nós formos a mudança/melhoria que queremos que haja[3], não vejo como é que apenas alguns, por mais responsabilizados, bem intencionados e capacitados que sejam, possam mudar/melhorar tudo isso, sem o concurso primeiro e fundamental de todos (pelo menos, de uma maioria suficiente), mais não seja na justa e necessária responsabilização daqueles que devem liderar o processo de desenvolvimento deste país.

Deixando de parte a tentação de entrar na “fria” de tentar caracterizar e/ou classificar a nossa matéria-prima-fundamental, creio que precisamos de, urgentemente, perder alguma arrogância e pudores despropositados e assumir, como prioridade primeira, a necessidade de melhorarmos (e muito!) a nossa matéria-prima-fundamental, especialmente em termos de valores e atitudes de vida pessoal e colectiva. Nalguns aspectos, teremos mesmo que mudar radicalmente para não dizer entrar em ruptura total com certas atitudes e práticas, sendo isso igualmente válido para os nossos jovens, famílias, trabalhadores, empresários e dirigentes – claro, cada um na sua justa medida.

Não será que alguns já estejam a pensar que se tudo isso for capaz de ser válido não deveria, por isso mesmo, ser pensado/feito, antes de mais, pelos nossos dirigentes e similares?! Certamente! Mas primeiro e fundamentalmente por uma maioria suficiente – incluindo, naturalmente, os dirigentes e afins -, capaz de poder mudar o status quo; a começar por mim e você.


[1] Incluindo mas não limitado aos aspectos político e económicos.
[2] Martins, Ovídio, in “Flagelados do Vento-Lest”
[3] "Be the change you want to see in the world." (Seja você mesmo a mudança que quer ver no mundo) — Mohandas K Gandhi (1869 – 1948)

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