sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Padre Pimenta

E depois do adeus...? (II)
do cidadão, cristão e padre que doou 51 anos de vida à Igreja e a Cabo Verde



“...Nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire,
mas sim em cima do velador, e assim alumia a todos os que estão em casa.”
Mt. 5, 15
Estivesse ainda entre os vivos, o nosso saudoso e querido Padre Caetano Francisco António da Piedade Pimenta Pereira (Pe. Pimenta) completaria 75 anos de idade, no passado dia 11 de Outubro.

Certamente, como era o seu jeito simples, não lhe faltaria um bonito bolo em casa que uma alma caridosa certamente lho presentearia e que ele, com aquele carinho tão peculiar, partilharia com as suas crianças da Infância Missionária (IM) e com quem passasse por aí. Acontece também que, nestes dias, o Seminário de S. José (SSJ), que ele apelidara de “coração da diocese”, está comemorando meio centenário de vida e de muita obra. A propósito disso, bem hajam, tanto a condecoração concedida pelo Senhor Presidente da República como os destaques que vêm sendo concedidos pelo Jornal “A Semana”, a TCV e outros órgãos de comunicação social.

No entanto, nos últimos tempos da sua vida, um dos principais projectos do nosso saudoso Pe. Pimenta era co-escrever e compilar uma monografia sobre essa grandiosidade de obra que foi e tem sido o SSJ[1]. Queria ele tanto - e estava contando com isso - que esse bendito projecto fosse algo tão partilhado como querido por muitos dos que fizeram parte desse projecto ímpar de formação de 21 padres e de muitos e bons cidadãos deste país. Contava e esperava a participação de muitos; estava feliz, crente e orgulhoso de poder contar com isso, qual criança ansiosa à espera de um lindo e prometido presente.

Enquanto isso, passaram-se já quatro meses desde que o saudoso padre foi a enterrar, num Sábado, 27 de Junho de 2007, no cemitério da Várzea, num acontecimento único na capital do país que a ninguém deixou indiferente. Durante as exéquias fúnebres, o Senhor Bispo da Diocese de Santiago de Cabo Verde, Dom Paulino Livramento Évora, escolheu as palavras tão eloquentes como pertinentes, do profeta Job, para o mote da sua feliz homilia: “Quem dera que as minhas palavras fossem… gravadas em bronze com estilete de ferro, ou esculpidas em pedra para sempre!”[2] Concomitantemente, no momento e em várias outras ocasiões, muitos cristãos e personalidades de todos os quadrantes deste país manifestaram e têm manifestado o seu pesar, a sua admiração e um grande respeito pelo homem, pelo cristão, pelo cidadão e pelo padre.

Quatro meses atrás, eu me sustentei no verbo do povo, que muitas vezes faz a vontade de Deus, para afirmar que seria bom confirmar que esse dia marcante não tivesse sido um mero acaso, uma mera formalidade; que tivesse substância e razão de ser! Que, sobretudo, depois e por causa dos 51 anos de sacerdócio doados à Igreja de Cristo em Cabo Verde, depois das marcas das suas palavras e das suas obras deixadas, no Seminário de S. José, como formador; depois do trabalho tanto elogiado que realizou em Santo Antão, mais precisamente na paróquia de Nossa Senhora do Rosário e nas freguesias de Nossa Senhora do Livramento, Santo António das Pombas e S. Pedro Apóstolo; depois de contribuir para a formação e liderar centenas (senão milhares) de jovens da geração 80 e 90 na Paróquia de Nossa Senhora da Graça, na Cidade da Praia; depois do empenho colocado ao serviço do Escutismo Católico e das crianças da Santa Infância Missionária; depois de tudo isso, era e é imperativo perguntar: “e depois do adeus”? Claro que, mais do que perguntar, é preciso responder, mostrando e fazendo frutificar os frutos das palavras e das obras do padre, do mestre, do professor, do director espiritual, do confidente, do assistente, do conselheiro, do amigo e do homem (de convicções muito fortes e profundas, apesar das suas fragilidades) Caetano Francisco António da Piedade Pimenta Pereira.” Porque, na verdade, “... Nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do velador, e assim alumia a todos os que estão em casa.”


[1] Entrevista publicada no Jornal Artiletra No. 72, Ano XIV, de Novembro de 2005, por ocasião das suas bodas de ouro sacerdotais.
[2] Job 19, 23-24.

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