domingo, 20 de julho de 2008

(V) Praia, di meu, di bo, di ses, di nos tudo

No tempo de inflacionadas e legitimas aspirações e reivindicações dos praienses
To raise someone's expectations then not fulfill them
is worse than mediocrity[1]

Seth Godin

Já é oficial e oficioso. A Câmara Municipal da Praia (CMP) tem nova equipa liderada por Ulisses Silva e a nova Assembleia Municipal continua – ainda bem! - sendo dirigida por uma mulher, desta feita, por Filomena Delgado.
Enquanto isso, nos dias que correm, aqui, por estas bandas da cidade capital da Praia de Santa Maria, nem só de subidas de preços dos combustíveis e dos cereais vivem as nossas inflações. É só ver as cartas abertas endereçadas ao novel presidente da CMP! Certo é que, não se têm os dados estatísticos sobre o assunto e, certamente, ainda não fazem parte da contabilidade pública nacional mas vê-se, a olho nu, que “Praia tem solução” serviu de mote para inflacionar bastante muitas das antigas bem com das novíssimas aspirações e reivindicações de todos os citadinos da capital do país – todas legítimas, diga-se de passagem; justiça é coisa outra.
Se tem razão o Mr. Seth Godin, é igualmente certo que, como dizem os experts na matéria, “com a inflação não se brinca”. Esta inflação que não se mede com número de eleitores ou votantes e que, contrariamente ao que tenho lido e ouvido, aqui e acolá, parece evidente que tem um “acumulado”[2] para lá das fronteiras de atribuições e responsabilidades assacadas e/ou a assacar, em exclusivo, a qualquer câmara municipal. Para além disso, nem se diminui e nem se desvaloriza com tentativas de descolação ligeira de uma realidade que, por mais circunscrita que se tente que seja, ela é sempre mais abrangente. Primeiro, porque muito pouco - se é que existam – são os problemas e as necessidades que sejam estritamente municipais, na Praia ou em qualquer outro município. Segundo, o eleitor, na maior parte das vezes, é uma pessoa satisfeita ou não com a sua vida (e dos seus) e as condições e oportunidades – globais! - que entende que legitimamente se lhe proporcionam ou não. Não vejo os nossos eleitores, na construção do seu sentido de voto, fazerem essa aritmética complicada entre o que é autárquico e o resto, o que muita gente parece querer sugerir. Sabendo que o sentido de um voto é uma realidade complexa, com variáveis dos mais diversos, ele é, ainda, em Cabo Verde, demasiadamente pesado pela cor dos partidos em causa. Para a grande maioria dos nossos eleitores, os nomes das listas que tiver em frente de si – objecto do seu voto de momento – contam sempre depois e grandemente por causa dos partidos em questão, e, quase sempre, “pagam” (bem ou mal) por eles mesmos e pelos seus.
Na verdade a inflação de expectativas e reivindicações na Cidade da Praia cresceu naturalmente com as eleições, com o renovar de esperanças que qualquer eleição e mudança devem trazer e que se acredite e se espere Ulisses Silva e equipa venham realizar e acrescentar para além de e sobre o que o Felisberto Vieira e equipa deixaram/ou não; ela existe diferentemente de um certo sentido dos votos, tanto ao nível dos descamisados como dos doutores, empresários e afins; ela não se nota não só nos bairros onde o MpD ganhou mas algo inesperado e de forma até mais acutilante nos bairros onde o PAICV também ganhou. Agora, em linha com o que diz o Seth Godin, por isso e por outras, é preciso algum cuidado e “solução” para essa inflação de expectativas.
pedromoreira@gmail.com


[1] Tradução minha. “Fazer subir as expectativas de uma pessoa e depois não as atender é pior do que a mediocridade”
[2] Por referência ao termo económico “inflação acumulada”.

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