quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

(I) Badiu ku Sanpadjudu

Sanpadjudu ku badiu, nos tudu, nos e “kool”[1]?

“Qual é a coisa qual é ela que ninguém ou quase ninguém ousa dizer (denunciar, no verdadeiro sentido da palavra…) mas todos murmuramos”.
Podia, muito bem, começar assim a bela de uma adivinha ou quebra-cabeças para contar e rir com a meninada. Nada disso! Estou a falar de uma realidade, nua e crua! De uma certa “animosidade” que existe entre badius e sanpadjudus por cada um ter certas atitudes e comportamentos, mais ou menos conscientes, individuais ou grupais, alegadamente, por serem, precisamente, badius ou sanpadjudus.

Na verdade, ninguém ou quase ninguém ousa dizer e assumir abertamente tudo o que está careca de pensar e remoer com os seus botões. Falamos sim – melhor, murmuramos - com os amigos mais próximos, seja de uma ou de outra ilha e de vez em quando, “chateamo-nos à bessa” e “mandamos as nossas bocas”, “ben mandadu, ate”.

Apesar do badalado aforismo do Heavy H, “sanpadjudu ku badiu, nos tudu, nos e kool”, a realidade dos factos é algo ainda bem diferente. Em todos os sectores e em todos os níveis sociais da vida, dentro e fora de Cabo Verde, sentimos que, apesar de toda a amizade, amor e morabeza de uns e outros, badius e sanpadjudus não são sempre “kool”, e não o são, consciente ou inconscientemente, às vezes, com implicações para lá dos níveis meramente pessoal ou familiar ("personal/private business"), pondo em causa questões como a identidade nacional, desenvolvimentos regionais, prioridades nacionais, valores culturais, a língua cabo-verdiana e outras coisas e causas nacionais importantes.

Claro que o assunto é da mais extrema complexidade e susceptibilidade que exigirá abordagens na igual proporção. Mas de igual modo o é o desenvolvimento de Cabo Verde e nem por isso desistimos. Ainda bem!

Confesso que não me acho nada muito sensível e não me deixo facilmente impressionar mas a “ferocidade” semi-orquestrada com que alguns sanpadjudus, especialmente da ilha de S. Vicente, reagem quando algum badiu, menos atento ou despreparado – mas nem por isso -, resolver meter-se ou intrometer-se, com as suas “vacas e bestas sagradas” (todos as temos) me deixa deveras impressionado e sensibilizado, nos seus aspectos positivos – alguns – mas também nos seus aspectos perversos[2]. Perante as questões que surgem à baila e a desproporcionalidade das investidas contra o causador imediato da ira que se solta, fica-se com a impressão de estarmos perante uma reacção e/ou oposição a algo muito mais abrangente e grave do que a suposta intromissão pessoal, particular, impertinente, indevida ou incorrecta em algum “personal/internal affairs”. Até porque, normalmente, os sanpadjudus são gente boa de fala mansa e verbos suaves.

Espero, pois, contrariamente, que esta simples opinião, escrita com intenção outra, que não a de deitar mais achas na fogueira, tenha reacções, protestos, ensinamentos mas não venha acordar alguns dos monstros sagrados adormecidos nesta matéria, embora, para mim, parte do problema dessa “guerra fria” latente reside no seu tratamento como assunto tabú ou politico-socialmente incorrecto. Ficamos, todos, “cada um na sua”, nos nossos pequenos círculos de amigos, sendo eles badius ou sanpadjudus, a resmungar e a maldizer uma situação que nos parece mais fatalidade do que casual, por isso, passível de entendimento e resolução em vez de agirmos, com inteligência e com responsabilidade.

pedromoreira2006@gmail.com

[1] Aforismo emprestado do músico e “entertainer” popular, Heavy H.
[2] Tenho plena consciência de que, apesar de todo o meu esforço, falo aqui na qualidade de um badiu, por isso, naturalmente, mais sensível a um conjunto de situações do que um sanpadjudu, mesmo munido da mesma atitude e intenção.

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